Praia da Tocha

Praia da Tocha
Foto de Filipe Freitas

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma construção que eu mesma já crítiquei neste blog

Construção incómoda na Praia da Tocha
Julho 9, 2010 in Sociedade



O desassossego atracou na Praia da Tocha. A construção de um estabelecimento no areal, junto à marginal, não agrada aos moradores, que já fizeram chegar um abaixo -assinado à Câmara Municipal de Cantanhede. Apesar da obra ser legal, a polémica está instalada.


As obras começaram, segundo um dos moradores, em Maio passado, o que apanhou todos de surpresa. É certo que o POOC (Plano de Ordenamento da Orla Costeira) prevê para a Praia da Tocha a construção de vários equipamentos de apoio. Mas, quem tem casa à beira-mar nunca esperou que ali – onde se ergue agora uma vasta área de obras – surgisse mais um.

À localização, na zona Norte da Praia e onde já estão três apoios de praia, soma-se a dimensão da infra-estrutura como razões invocadas pelos moradores para o seu descontentamento, que exprimiram em abaixo-assinado. Ao todo, são setenta os subscritores do documento, enviado ao executivo camarário e ao Presidente da Assembleia Municipal. Aliás, os queixosos marcaram presença numa reunião pública da Câmara Municipal, tendo apelado “à ponderação e ao bom sendo na hora de apreciar a actividade a licenciar bem como o respectivo horário de funcionamento”.

Tendo o projecto obedecido a todos os trâmites legais, sob alçada da Administração Regional Hidrográfica do Centro, e não tendo os habitantes actuado em tempo útil (alegam que nem se aperceberam da publicação dos editais), resta-lhes agora esperar que dali, depois da obra pronta e da casa a funcionar, venham males menores.

O que vai abrir?

O processo de licenciamento de construção, que deu entrada no município, diz respeito a um estabelecimento de restauração e de bebidas, mas os habitantes da Praia temem que ali venha a funcionar uma discoteca. “Os tremoços não se vendem na Igreja, vendem-se à porta”, sentencia Miguel Jerónimo, proprietário de casa junto à obra e um dos subscritores do documento.

“Ou seja, as discotecas devem ficar fora de portas, não aqui, no âmago da vila”. Desalentados e preocupados, os habitantes contam que a Praia tem vindo a perder a tranquilidade, que era um dos maiores atractivos da localidade, e, consequentemente, visitantes.

Manuel Amaro, com casa em frente ao mar, também assinou o documento. Diz que compreende ambos os lados – emp-resários e moradores – mas que se criou um problema que será de difícil solução. “Nem eles nem nós… ninguém terá sossego!”, prevê.

O estabelecimento funcionará, à partida, com o mesmo horário de outros nas imediações. Logo, apontam-se as seis da manhã como o horário de fecho previsível. Ora, numa rua de casas contíguas, onde muitas são palheiros restaurados, a garantia de pouco barulho será mínima, na perspectiva de quem ali mora. Os habitantes dizem temer o barulho que haverá, também, fora de portas, bem como outras consequências, fruto do funcionamento de um estabelecimento junto a residências.

“É uma dor de alma”

“Isto para nós é uma dor de alma, estão a tirar à Praia a sua personalidade”, lamenta-se Miguel Jerónimo, para quem a Tocha tem vindo a descaracterizar-se. Também Manuel Amaro confirmou ao AuriNegra que há queixas de que o negócio de arrendamento piora a cada ano, uma vez que a tranquilidade e o sossego diminuem a cada Verão.

João Moura, Presidente da Câmara de Cantanhede, garante que não será por haver um novo estabelecimento que vai acabar o sossego, defendendo que a lei deve ser igual para todos: “Não estamos perante nenhuma ilegalidade, a construção respeita integralmente o que está previsto para aquele ponto de apoio de praia. Na Praia há 18 estabelecimentos de restauração, este não pode ser nem mais nem menos do que os outros”.

O autarca assumiu ainda, na Assembleia Municipal do passado dia 29 de Junho, que “se tentará enquadrar a vinda deste estabelecimento dentro de um horário que agrade a todos”, e deixou a garantia de que o espaço não será uma discoteca, já que para isso não existe licença.

Um mamarracho no horizonte

Os moradores é que não se conformam. Sofrem por antecipação quanto à abertura da casa, bem como pelo passado, já que entendem que a autarquia podia ter chamado a si a exploração daquele local, evitando a vinda de privados. João Moura assim não considera, tendo esclarecido que a autarquia não teve interesse nisso, e que a isso não era obrigada.

Mas sofrem ainda, os moradores, por outro motivo: a Praia foi distinguida pela Bandeira Azul, galardão que impõe a inexistência de obras junto à Praia. Por isso, com as obras paradas, ergue-se agora, frente ao mar, um enorme taipal, que protege cerca de 300 metros quadrados de ferros e estruturas. No horizonte não se vislumbra agora o mar nem o areal mas sim um “mamarracho”, como lhe chamam os queixosos. E será assim durante toda a época balnear.

O AuriNegra tentou obter esclarecimentos junto da empresa promotora da construção do equipamento em causa, mas nenhum dos seus responsáveis se mostrou disponível para prestar esclarecimentos ao nosso Jornal.

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